RESENHA CRÍTICA: DIANTE DA LEI (FRANZ KAFKA) 3
O conto “Diante da
Lei”, publicado pela Editora L&PM, no livro O Processo, em
2011, de autoria do célebre Franz Kafka, traduzida pelo gaúcho Marcelo Backes,
trata da dificuldade de ingressar na lei, ou utilizá-la em seu favor.
Franz Kafka é um expoente da literatura ocidental do século XX. Formado
em Direito em Praga, trabalhou como funcionário público por quase toda sua vida
profissional. Dentre suas obras destacamos: O Processo, Carta ao Pai, A
Construção e Sobre as Questões das Leis.
O texto é fácil de ler, mas de difícil interpretação, pois a ideia
central está subentendida. Ele retratava a realidade que vivia. O autor utiliza um
método baseado em parábolas. Podemos entendê-lo como autor
moderno. Tem uma página e não tem divisão.
O conto faz uma parábola de situações cotidianas, pois retrata a
realidade de todos nós. O homem parado diante da lei, impedido de acessá-la
devido a um porteiro que não permite sua entrada. O camponês passa anos
aguardando a benevolência do porteiro em conceder entrada a ele, luta em vão,
pois nunca conseguiu entrar. Até descobrir que para acessar a lei basta entrar,
pois é acessível a todos. Entende-se que é o “sistema” que nos impede de
acessar as leis.
Outro autor que trata do mesmo assunto, mas com um ângulo diferente é
Paolo Grossi. No capítulo “O que é o Direito”, parte integrante do livro Primeira
Lição Sobre Direito, publicado pela Editora Forense, traduzida por
Ricardo Marcelo da Fonseca, no ano de 2006, procura explicar qual a incógnita
do Direito, os motivos pelo qual o estado se apossou dele e o distanciamento do
cidadão comum perante o imperativo das leis.
Paolo Grossi foi professor catedrático de História do Direito na
Universidade de Florença, recebeu o título Honoris Causa em várias
universidades pelo mundo, é autor de respaldo internacional. Em 2009 foi
nomeado Ministro da Corte Constitucional da República Italiana. O autor é historiador
do Direito e é notável que o texto tenha linguagem direta e utiliza exemplos
para facilitar ainda mais o entendimento do leitor.
No capítulo Grossi aborda como o Direito se comporta na sociedade e como
a sociedade se comporta em relação ao Direito, salientando a confiança do
Direito nos signos sensíveis. Ele ajuda entender que o Direito é parte
integrante da sociedade. Sendo assim é fisionomia e não o que regra a
sociedade. Retratando o distanciamento do cidadão comum em relação ao Direito,
ele nos leva a pensar no fato de que o Estado apossou-se do Direito para que
assim possa dar legalidade as suas ações. E estas por sua vez são ilegais ou
contra a razão comum em repetidas situações. O Direito vem de cima, é
impositivo, “faça por coação ou sanção, mas faça”. Grossi ressalta o papel do
historiador do Direito nessas situações, pois é este que entende os fatos,
analisando-os historicamente e acompanhando a evolução gradual do Direito. Por
vezes esta evolução não é uma evolução para melhor, é somente uma modificação
inerte.
Esta
resenha refere-se páginas 01 a 11 do livro e é divida em quatro
tópicos: O direito entre a Ignorância, Desentendidos e Incompreensões; As
Razões Históricas dos Desentendidos e Incompreensões; O Início de um Resgate:
Humanidade e Socialidade do Direito; Sobre a Gênese do Direito na Indistinção
do “Social”. O autor utiliza uma abordagem bibliográfica, metodológica e
principalmente histórica.
Na comparação dos textos notamos claramente que os dois autores abordam
temas relacionados entre si, pois retratam o distanciamento do cidadão comum em
relação ao direito e a lei.
Kafka consegue repassar sua mensagem na parábola, não deixa nada a
desejar, ao terminar de ler provamos uma sensação de esclarecimento intelectual
e surpresa ao perceber que a realidade está exposta a nós com clareza, mas
relutamos em compreendê-la.
Grossi passeia pela história do direito, arguto e perspicaz, consegue
explicar através de ilustrações palpáveis e plausíveis a feiura do direito.
Feiura porque ele foi possuído pelo estado como ferramenta para justificar seus
atos, que muitas vezes não são junto ao terminar a leitura, vemos o
agigantamento do estado perante o cidadão comum, que segue ou se sujeita a lei.
A obra de Kafka dirige-se ao público geral, pois remete as fábulas de
Esopo, com uma lição de moral no fim, mesmo que esteja implícita no fim.
Recomenda-se a leitura desde iniciantes no direito até o cidadão leigo.
A obra de Grossi é bem explicativa, com uma leitura que exige certo
conhecimento, é recomendada para atuantes na área do direito.
REFERÊNCIAS
KAFKA, Franz. O Processo. Trad.
Marcelo Backes. Porto Alegre: L&PM, 2011. P. 246-247
GROSSI, Paulo. Primeira Lição
de Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2006. P.01-11.
[1] Acadêmica de Direito na Faculdade Dom Bosco.
Obrigado por postar minha resenha professor!
ResponderExcluirObrigado a você por participar.
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