RESUMO CRÍTICO: ALMANAQUE (CHICO BUARQUE) E A MARCHA FÚNEBRE PROSSEGUE (EDUARDO MAURO CARDIM)
Francielly Casagrande
Resumo acadêmico crítico: Retratos
da realidade social brasileira.
HOLLANDA, Chico Buarque de. Almanaque. Rio de Janeiro : Ariola/Philips, 1981.
A música “O Meu Guri”, composta
por Chico Buarque de Hollanda, retrata em seus versos a realidade social
brasileira. Trata-se de uma história que acontece todos os dias em algum dos tantos
morros existentes em nosso país. Uma mãe solteira dá à luz a uma criança, sem as
mínimas condições para criá-la. Esta criança é criada na pobreza, vendo a luta
diária de sua mãe. Então, na esperança de dias melhores, este menino promete a
si mesmo que um dia será alguém e terá alguma coisa na vida. Quando jovem busca
dar à mãe e para si mesmo aquilo que sempre sonhou, ainda que seja fruto da
criminalidade. A mãe tenta se enganar com a figura de um filho trabalhador,
orgulhando-se deste que está “chegando lá”. E mesmo com a notícia da morte de
seu filho estampada nos jornais, persiste em acreditar na ilusão criada, de um
filho honesto e que realizou seus sonhos. Outra composição que trata do mesmo
tema é “Desculpa Mãe”, do grupo Facção Central. A letra da música é o relato de
um jovem que vive na criminalidade, desafiando as leis e causando sofrimento
para sua mãe. Esta mãe esforça-se ao máximo para criar seu filho sozinha, sendo
vítima das consequências que a criminalidade trouxe para sua família. O jovem, que
conta a história nos versos da música, arrepende-se de não ter sido motivo de
orgulho para a mãe e de toda a dor que causou a ela. Após a morte de sua mãe,
ele parece perceber quantos erros cometeu durante sua vida, que poderia ter
estudado e até mesmo sido um grande empresário, mas errou ao escolher o caminho
do crime. Ambas as composições relatam a triste trajetória de muitos jovens e
mães brasileiras. Na canção de Chico, o relato é de uma mãe, que conta sobre a vida
de seu filho desde o nascimento até a sua morte. Já na música do grupo de rap
Facção Central, quem dá voz à história é o filho, contando sua vivência no
mundo do crime e das drogas, e as batalhas de sua mãe. Chico Buarque possui um estilo
rebuscado e poético, sendo que a letra de “o Meu Guri” dá margem a muitas
interpretações. Embora seja música popular brasileira, é voltada para uma
classe mais elitizada e intelectualizada, como forma de crítica social. Nos
versos de Facção Central encontra-se o linguajar próprio das ruas, transmitindo
a emoção do intérprete, que vivenciou toda a situação. Embora em diferentes
estilos musicais e literários, as duas canções conseguem cumprir com êxito a intenção
de revelar a realidade de muitas famílias brasileiras, que vivem à margem da
sociedade e diariamente tem os seus direitos fundamentais reduzidos a nada.
CARDIM,
Eduardo Mauro. A Marcha Fúnebre
Prossegue. Ouver Records/Facção Central, 2001.
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