RESENHAS CRÍTICA: ANÁLISE SOBRE A PSICOPATIA EM ADOLESCENTES
Marcela Albuquerque[1]
O filme Precisamos falar sobre
Kevin baseado no livro Precisamos
falar sobre Kevin, de Lionel Shriver, dirigido por Lynne Ramsay, e lançado
pela produtora Paris Filmes, no ano de 2011, conta a história de uma relação
conturbada entre mãe e filho, que conduz futuramente a uma tragédia.
Lionel Shriver é jornalista, escritora
e colunista do jornal britânico “The Guardian”. Ganhadora de inúmeros prêmios
literários, possui dentre suas obras O
Mundo Pós-Aniversário e Dupla Falta.
Já Lynne Ramsay é uma renomada diretora escocesa conhecida por filmes como O Lixo e o Sonho e O Romance de Morvern Callar.
Lionel utiliza a escola de
pensamento da psicopatologia para compor sua obra, analisando como essa problemática
se desenvolve na adolescência. O filme abordado tende, nos primeiros minutos, a
ser complicado de entender devido à falta de linearidade característica da
metodologia empregada.
A história
contada é a de Eva, uma mulher triste e aparentemente depressiva que vive em
uma cidadezinha e passa os seus dias ora “presa” em sua casa, tomando vinho e
remédios para dormir, ora sendo hostilizada pelos demais moradores do local.
Com o desenrolar dos eventos narrados, descobre-se, no entanto, que a trama
envolve também o restante da família de Eva e a relação dela com cada um deles,
principalmente com o seu filho mais velho Kevin. Um garoto desobediente que
vive desafiando a mãe, mas que é um doce com o pai. Capaz de protagonizar um
episódio aterrorizante na escola em que estudava, atingindo os demais alunos
com flechas e matando seu pai e sua irmã mais nova no jardim de casa.
A produção tem 110 minutos de duração e
utiliza a metodologia do flashback para
desenvolver seu enredo. Trata-se da adaptação de uma obra literária ficcional para
uma obra cinematográfica dramática.
Em consonância com o tema abordado temos o
livro Psicologia da Adolescência,
escrito por Dinah Martins de Souza Campos e publicado pela editora Vozes, no
ano de 2011, que além de determinar as vantagens e desvantagens do diagnóstico
precoce de problemas mentais, explica as principais psicopatologias que podem
ser encontradas em adolescentes e os possíveis eventos formadores dessas
doenças.
Dinah Martins de Souza Campos é mestra e doutora em psicologia. Atua no
campo como professora, psicóloga e pesquisadora. Entre suas principais obras se
destacam Psicologia da Aprendizagem e
Psicologia e desenvolvimento humano. Para
embasar a obra analisada, a autora utilizou a escola da psicopatologia e recebeu
influência de doutrinadores como Piaget e Mira y López.
Através
de linguagens simples, a escritora pôde desenvolver um texto de fácil leitura
sobre diversas abordagens científicas, tendo como tema principal as psicopatologias
encontradas na adolescência. Contudo, Dinah Martins ressalva que um diagnóstico
preciso em um paciente adolescente é uma tarefa complicada, pois se feito
incorretamente poderá apontar um problema que sequer existe.
Com
bem se sabe é nesta fase em que a criança mais sofre mudanças no seu modo de
agir e pensar. Isso se deve ao fato de que o jovem deve romper com suas ações
habituais, e deve aprender a resolver seus conflitos e a ser independente,
tanto no campo financeiro quanto no psicológico. Visto que se encontra na
transição da infância para a fase adulta.
Além
disso, a autora ressalva que a maioria dos estudiosos tem aversão a formular uma
classificação geral das doenças relacionadas com a psiquê humana. A explicação que
se dá para isso é que existe uma diversidade de fatores que podem influenciar
um distúrbio mental, e a maioria desses distúrbios conta com sintomas muito
parecidos.
O
texto se estrutura em 183 páginas. Possui quinze capítulos, com mais de 60
subtítulos, e utiliza a metodologia bibliográfica.
A
utilização de diferentes mídias para abordar o mesmo assunto acaba contribuindo
positivamente para uma a conscientização da população sobre o tema. Assim, o
filme acaba sendo uma ilustração perfeita para a ideia explorada no livro de
Dinah Martins. E até mesmo a falta de linearidade empregada para compor a obra
visual transmite um ensinamento ao espectador.
O fato do filme ser a reflexão de uma mãe
sobre acontecimentos passados envolvendo seu filho, em busca de uma explicação
para a tragédia cometida por ele, demonstra que nem sempre é possível perceber o desenvolvimento de
certos distúrbios, e que é ainda mais difícil eleger um fator o que os
desencadeia.
Apesar de ser aparentemente confuso, o
enredo de Precisamos falar sobre Kevin acaba
se desenrolando de maneira instigante, atraente e surpreendente para quem o
assiste, fazendo com que qualquer dificuldade de compreensão da história seja
ignorada ainda nos primeiros minutos de filme.
Essa abordagem simplificada de um tema tão
complexo cria certa curiosidade científica, que é inteiramente sanada com o
livro Psicologia da Adolescência. Tal
obra não apenas ajuda na compreensão do problema central do filme, como também se
torna um importante aliado para pais e educadores que queiram compreender
melhor as transformações psicológicas que uma criança sofre.
Devido
ao exposto, tanto o filme quanto o livro são indicados para aqueles que queiram
aprender mais sobre um campo tão conflitante da psicologia. Além disso, os
amantes de filmes de suspense que, além de divertir, informam sobre temas
atuais, encontram o que procuram na trama dirigida por Lynne Ramsay.
REFERÊNCIA
Precisamos falar sobre Kevin.
Direção de Lynne Ramsay. Reino Unido: Paris Filmes, 2011.
CAMPOS,
Dinah Martins de Souza. Psicologia da
adolescência: normalidade e psicopatologia. Petrópolis: Vozes, 2011.
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