RESENHA CRÍTICA “Precisamos falar sobre Kevin: o olhar da psicologia”
Francielly Casagrande de Lima[1]
O filme Precisamos falar sobre Kevin, com
direção de Lynne Ramsay, lançado no ano de 2011 pela produtora Paris filmes,
traz às telas o conturbado relacionamento entre uma mãe e seu filho, que
resulta em um massacre na escola da pacata cidade onde vivem.
A diretora escocesa Lynne
Ramsay é atualmente considerada pela crítica como uma das maiores
representantes do cinema britânico. A diretora possui em seu currículo cinco
filmes, 20 prêmios e 11 indicações. De modo geral os filmes de Lynne Ramsay
abordam a temática de traumas e questões psicológicas. Outra característica são
as cenas em tons de vermelho, de modo que busca transmitir o sofrimento que
marca a vida de seus personagens.
O filme relata por meio de
flashbacks o drama de Eva (Tilda
Swinton), enquanto ela busca reconstruir sua vida após a tragédia que a
assolou. Fruto de seu relacionamento com Franklin (John C. Reilly) nasce Kevin
(Ezra Miller), um filho não desejado que veio para conturbar seu mundo. Kevin
desde criança apresenta sinais de desvio de comportamento, ele chora
compulsivamente, se recusa a interagir com sua mãe e mostra-se agressivo. Somando
tais fatos à difícil relação entre mãe e filho, ao ciúme causado pela irmã mais
nova, e à passividade excessiva de seu pai, uma tragédia se anunciava. Kevin,
aos 16 anos comete um massacre na escola da cidade, matando alunos e
professores, além de ceifar a vida de seu pai e sua irmã.
A obra cinematográfica é
uma adaptação literária e possui 110 minutos de duração.
Tratando de mesma
temática, o capítulo “Comportamento Desajustado”, da obra Introdução à Psicologia, de autoria de Linda Lee Davidoff,
publicado em 2001 pela Editora Pearson Makron Books, revela as possíveis causas
e quais são as desordens de comportamento conhecidas pela psicologia.
Linda L. Davidoff é psicóloga
e presidente do Chemical Sensitivity
Disorders Association, possui ainda obras e artigos publicados. Sua
principal linha de pesquisa é o estudo das emoções e saúde mental. Suas
publicações são acadêmicas, na área da psicologia e possuem linguagem didática
e técnica.
No início do capítulo
supramencionado Davidoff questiona se o comportamento anormal seria
efetivamente um distúrbio orgânico ou situação causada por problemas da vida. A
autora defende que possivelmente a interligação do orgânico com o emocional são
a causa do comportamento desajustado. O texto revela por meio de pesquisas que
os genes podem também contribuir para os problemas de ordem comportamental,
tais como a personalidade antissocial, esquizofrenia e depressão. Outra
possibilidade apontada pela psicóloga seriam as lesões ou experiências na
infância e pré-adolescência. O capítulo ainda define os sintomas e as características
de cada uma das desordens comportamentais catalogadas pela psicologia.
O capítulo possui 41
páginas e está dividido em 10 subtítulos. A metodologia empregada é
bibliográfica.
Ambas as obras
supramencionadas abordam a temática dos distúrbios comportamentais. No filme Precisamos falar sobre Kevin, por meio
das lembranças de Eva, é possível perceber que ela não desejava o nascimento de
Kevin, que existia dificuldade na interação entre mãe e filho, e que a criança
desde muito nova demonstrava ser problemática. No final do filme fica no
expectador a inquietante dúvida de qual teria sido a razão para que o
adolescente praticasse tamanho ato de crueldade. É possível buscar esta
resposta analisando os fatos da infância e adolescência de Kevin, com base na
obra de Davidoff.
Enquanto no filme as cenas
explicitam os fatos traumáticos da vida de Kevin, bem com a sua personalidade
sádica e agressiva, no capítulo “Comportamento Desajustado” a autora descreve
exatamente quais são os sintomas e as características das ditas patologias
mentais, de modo que é possível fazer clara conexão entre os conceitos
científicos apresentados no livro e as situações da vida de Kevin e sua família
apresentados no filme.
Analisando a tragédia
ocorrida no filme, embasada nas causas que desencadeiam as anomalias
comportamentais tratadas no texto, é possível refletir que talvez não fosse
Kevin o único vilão do filme. O jovem se sentindo rejeitado por sua mãe, e inserido
em uma estrutura familiar sem diálogo, pode ter desencadeado um desvio de
comportamento, que talvez não tivesse acontecido se as circunstâncias de sua
vida fossem diferentes. Davidoff em seu livro diz claramente que os fatores
externos podem influenciar a aparição de fatores orgânicos patológicos, o que
nos leva a pensar que, de repente, se os pais tivessem “falado sobre Kevin” e
principalmente tivessem “falado com Kevin” o rumo desta história poderia ter
sido outro. Desta forma filme e livro se complementam, trazendo à baila a
importância do diálogo e estrutura familiar na criação dos filhos.
O filme pode ser interessante para expectadores
que apreciem filmes dramáticos e complexos, enquanto o livro é voltado
especialmente para estudantes e pessoas interessadas em psicologia.
REFERÊNCIA
Precisamos
falar sobre Kevin.
Direção de Lynne Ramsay. Reino Unido: Paris Filmes, 2011.
DAVIDOFF, Linda Lee.Comportamento
Desajustado. In: Introdução à Psicologia. São Paulo: Pearson Makron Books, 2001.
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