RESENHA ACADÊMICA CRITICA: TEXTOS DE GROSSI E KAFKA 5

Walderes Júnior Freire Azevedo[1]

            O texto “Diante de Lei”, que se encontra no livro O processo, de autoria de Franz Kafka, relata uma fábula, na qual há dois personagens fictícios, um camponês que busca uma resposta e um porteiro.  
Franz Kafka estudou direito na universidade de Praga, também foi romancista, contista, além de escrever alguns livros como: A metamorfose, O castelo, Carta ao pai, entre outros. Frequentava alguns grupos literários e políticos e era realista. O texto é escrito de maneira acessível e de interpretação ampla.
             A história começa quando um camponês chega perto de um porteiro, que está diante de lei e pergunta pare ele se pode entrar e a resposta foi que não era possível entrar naquele momento. O camponês na sua simplicidade decide aguardar. Enquanto esperava, sentado num banquinho, o porteiro interroga-o, fazendo-lhe indagações irrelevantes.
            Com o passar do tempo o campônio sente-se impaciente e emprega muitos objetos que trazia consigo, da viagem, para subornar o porteiro, porém sem nenhum resultado efetivo. Muitos anos se passam, e nesse período o viajante vai perdendo a esperança de entrar. No fim da vida pergunta ao porteiro porque que, em tanto anos, ninguém havia entrado por aquela porta, e o guardião, antes de ir embora e trancar a porta, responde que aquela entrada pertencia unicamente ao camponês.   
            O texto possui 12 parágrafos distribuídos entre diálogos e narraçãoO autor utiliza uma abordagem metodológica fictícia de parábola.
Já o segundo texto, “O que é direito”, que está no livro Primeira lição sobre direito, escrito por Paolo Grossi, explica como é a relação entre o homem simples e o direito.
Paolo Grossi é professor doutor de História do direito na Universidade de Florença e juiz da Corte Constitucional Italiana. A linha de pensamento dele é histórico-medieval, sendo que o texto tem uma linguagem simples de média compreensão. 
             Primeiramente o texto começa delimitando quais são os sinais de comunicação que o direito se utiliza para garantir sua aplicabilidade. Fato que torna o direito um mistério para o homem comum, pois tais signos não precisam ser visíveis.
             Grossi demonstra como que o Estado se utilizou do direito para manufaturar sua estrutura de poder, trazendo para o direito algumas características negativas, inclusive a de ser misterioso. Segundo o texto, uma das formas de se sanar tal involução do direito, é buscar resgatar a humanidade e socialidade, aproximando-os mais da relação social. 
            O capítulo contém 21 páginas, distribuídas entre conceituações e críticas a estrutura do direitoO autor utiliza uma abordagem metodológica histórica e bibliográfica.
            Comparando-se os dois textos, observamos uma semelhança no que tange ao tema central abordado, que é o acesso do cidadão comum à lei. No primeiro, há a descrição fictícia de um homem simples que não consegue alcançar a justiça, pois ela possui algumas características, estruturais e funcionais, que o impedem de usufruir de algo que intrinsecamente lhe pertence e isso se traduz na atual situação da justiça.
            Tal fato ocorreu porque o direito ao longo dos séculos deixou de ser algo simples, a relação entre indivíduos, transformando-se num intrumento de poder. Não unicamente uma pessoa dominando a outra, mas, sim, uma sociedade sendo subjugada pelo Estado. O segundo texto explica que o Estado se utlizou do direito para legitimar sua continuidade no poder.
            Todavia, com a evolução da civilização contemporânea, o direito está se tornando cada vez mais abrangente, pois começou a se preocupar com a célula constintuinte da sociedade, o indivíduo, possibilitando-lhe um rol de direitos humanos. Obviamente nem todos são assistidos por tais benignidades, pois é algo recente, e urge que as pessoas sejam concientizadas de que o sistema judiciário é um instrumento seu e não o contrário.
            O texto de Kafka demonstra justamente que o sujeito deve ter coragem e passar pelo “porteiro” e pela “porta”, pois, caso contrário morrerá usurpando de si mesmo uma coisa que é de sua propriedade, a lei.
             
                  
REFERÊNCIAS
KAFKA, Franz. O processo. Trad. Marcelo Backes. Porto Alegre: L&PM, 2011.  P. 246-247.
GROSSI, Paulo. Primeira Lição de Direito. Rio de Janeiro. Forense, 2006.




[1] Acadêmico de direito na Faculdade Dom Bosco.

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